Bolsonaro tenta se equilibrar entre pressão política de agendas e restrições judiciais.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) completa duas semanas, nesta sexta-feira (1º), de uso de tornozeleira, restrições de ir e vir, longe das redes sociais e sem dar entrevistas. Desde então, ele tem participado de poucas agendas públicas, buscando se equilibrar entre a pressão política para manter sua exposição e o cumprimento das medidas cautelares.
Aliados do ex-presidente defendem que ele mantenha a presença em eventos, ainda que com todo cuidado, para mantê-lo presente na opinião pública. Avaliam ainda que aparecer em público, sem falar nada, com a tornozeleira no calcanhar ajuda na imagem de vítima de perseguição que querem passar.
Eles dizem que Bolsonaro tem sofrido com as determinações do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Sobretudo por ter adotado uma posição mais conservadora de não se manifestar.
O ex-presidente não está proibido de dar entrevistas, mas avalia que a decisão de Moraes foi abrangente nesse quesito, ao manter a proibição da replicação de trechos do que disser por terceiros. Por isso, evita falar.
Segundo interlocutores, há um constante clima de tensão ao seu redor para evitar interpretações que possam ensejar uma decisão mais dura da corte –Bolsonaro teme ser preso.
O ex-presidente tem uma rotina de trabalhar presencialmente na sede do PL, onde tem feito uma agenda mais improvisada. Seus aliados levam empresários dos estados ou algum outro visitante que queira vê-lo.
As viagens, que vinham sendo parte do dia a dia neste ano até então, foram proibidas por Moraes. E como o Congresso está no recesso parlamentar, foram poucas as visitas nessas duas semanas.
Como Bolsonaro não pode se aproximar de representações diplomáticas, tem sido um desafio da equipe do ex-presidente uma rota de carro que não se aproxime de embaixadas em Brasília.
Aliados dizem que, apesar da severidade das medidas, não querem Bolsonaro parado em casa, até porque não é o que ele quer fazer, e temem um eventual quadro de depressão. Hoje classificam-no como resignado, mas indignado.
A ideia é que o ex-presidente continue comparecendo a eventos, sempre que possível. Os cuidados foram redobrados após a ameaça de prisão de Moraes na semana passada. Ele já estava sob medidas cautelares e decidiu, de improviso, falar na escadaria da Câmara dos Deputados e mostrar sua tornozeleira.
A imagem foi reproduzida nos jornais e replicada nas redes sociais. O magistrado pediu esclarecimentos à defesa e ameaçou prendê-lo pelo descumprimento das determinações judiciais.
Bolsonaro recuou. Seus advogados disseram não ter como controlar terceiros e prometeram que ele não falaria mais –o que ele vem cumprindo desde então.
O ex-presidente encontra a imprensa sempre ao chegar e ao sair do PL em Brasília. Diz que, “infelizmente”, não pode falar com jornalistas.
Sua primeira aparição pública desde a ameaça de prisão foi no dia 24, quando participou de um culto na Igreja Casa da Benção, em Taguatinga (DF), ao lado do senador Magno Malta (PL-ES) e do filho Jair Renan, que é vereador em Balneário Camboriú (SC).
Na ocasião, Bolsonaro chorou com a pregação da ex-primeira-dama Michelle.
Na última terça-feira (29), ele participou de um evento de motociclistas e de moticiata em Brasília –ainda sem discursar. Bolsonaro apenas acenou e sorriu para os apoiadores, sem fazer discurso.
Em vez de pilotar uma moto, ele participou de cima de um pequeno carro de som, que seguiu à frente das motos por um trajeto da Granja do Torto até a rodoviária, sem passar pela Esplanada dos Ministérios.
Cercando Bolsonaro, os apoiadores tiravam fotos e pediam que ele voltasse para a Presidência da República em 2026, ignorando a inelegibilidade do ex-presidente —estratégia que o próprio também tem adotado. Também houve gritos de “liberdade” em uma crítica às medidas impostas por Alexandre de Moraes.
Auxiliares de Bolsonaro diziam não ter certeza da participação do ex-presidente no ato até pouco antes, porque ele costuma decidir no momento.
Alguns foram contrários à sua participação, por temer que algo pudesse sair do controle e ensejar questionamentos jurídicos sobre descumprimento de cautelares.
O maior temor nesses eventos públicos é com o próprio Bolsonaro e com a possibilidade de ele acabar falando de improviso, como na Câmara na semana anterior.
Outros entendem que ele mostra sua força política com apoiadores e tem uma injeção de ânimo.
Hoje eles consideram que a dificuldade será de equilibrar sua exposição entre não sair da agenda pública, mas tomando cuidado para não desrespeitar qualquer ponto da decisão de Moraes.
No próximo domingo (3), bolsonaristas estão chamando atos em todos os estados contra Moraes e em defesa do ex-presidente. Ele próprio não poderá participar, nem por vídeo, nem presencialmente. Bolsonaro está impedido de sair de casa aos finais de semana.
Fonte: Política Livre
Foto: Reprodução
Nenhum comentário: