Otto se movimenta em sinal de que chapa de governadores pensada por PT tende a naufragar, por Raul Monteiro*

 






Do senador Otto Alencar (PSD), sempre se disse que é um político essencialmente estratégico e cauteloso. Racional, metódico e atencioso, não entra em bola dividida com quem não possa derrotar, não trai para que não o acusem de infidelidade nem costuma ousar ou assumir grandes desafios para os quais não se sinta, antecipadamente, preparado. Sua trajetória é um exemplo de como a autocontenção pode ser sinônimo de sucesso. Quando a bola quicou em seus pés para que se tornasse candidato ao governo do grupo petista em 2022, preferiu, polidamente, colocá-la de lado e declinar da oferta, consciente de que não contaria com o apoio necessário para fazer o gol.


A escolha, em seguida, do ex-secretário de Educação Jerônimo Rodrigues como candidato e sua posterior vitória mostraram que o PT tinha gás suficiente para marchar com um dos seus e que se Otto tivesse apostado na aventura de concorrer a governador naquele momento amargaria uma grande derrota pessoal. Por essas e outras é que seus últimos passos, demonstrando uma animação sem precedentes quando se refere a 2026 e fazendo referência constante a novos desafios, tem levado o partido de Jerônimo a colocar as barbas de molho. Estaria Otto, escorado na força do PSD da raposa Gilberto Kassab, pensando em algum projeto de concorrer ao governo do Estado?


Ou mesmo, como rezam as últimas especulações, poderia acabar aceitando de bom grado uma eventual candidatura a vice na chapa presidencial de Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo no qual a oposição, incluído aí o centro político do país, passou a apostar todas as fichas para derrotar Lula no ano que vem? O que não se pode negar é que algo mudou no comportamento do senador conhecido por proteger os aliados e liderados que lhe são fiéis como uma leoa que defende sua cria. Aliás, talvez a alegada mudança de Otto não passe de uma estratégia para proteger uma de suas maiores criações: o senador Angelo Coronel (PSD).


Os dois compõem a melhor parceria de que se tem notícia na história recente da política baiana, algo de que o senador Jaques Wagner (PT) poderia agora estar também desfrutando não tivesse escolhido para companheiro de jornada uma figura de temperamento difícil e egoísta como o hoje ministro Rui Costa (Casa Civil), com quem a aliança duradoura e de alto nível na qual apostou naufragou mais cedo do que se imaginava. Não era de agora que Otto assistia às insinuações de que Coronel seria excluído da chapa com que Jerônimo pretende disputar a reeleição sem esboçar qualquer reação, como se à espreita da melhor oportunidade para se colocar.


Com um governo STF-dependente como o de Lula, cuja aprovação, ainda por cima, cai a olhos vistos, o que não deixa de repercutir nos planos reeleitorais do governador baiano, não espanta que o cacique local do PSD tenha achado que a hora é de agir, convencido, como muita gente hoje, de que, mantidas as condições atuais, será muito difícil para o PT lançar mão do projeto de ocupar três das quatro vagas da chapa de 2026 – a do governador e as dos dois senadores. Está mais do que claro que, para se manter no grupo, Otto vai exigir espaço para a reeleição de Coronel, obrigando Wagner ou Rui a abrir mão de concorrer ao Senado em 2026.


*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.



Fonte: Política Livre 

Foto: Reprodução 


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