Jerônimo é alertado de que ofensiva de Coronel contra o governo na Alba foi combinada com Otto
Disposto a manter a vaga na chapa majoritária a qualquer custo, senador usa pacto com deputados do 'G10' como primeira fase de plano para emparedar o Palácio de Ondina.
Articuladores políticos do Palácio de Ondina alertaram o governador Jerônimo Rodrigues (PT) de que a ofensiva do senador Ângelo Coronel para liderar o chamado G10 da Assembleia Legislativa (Alba) foi deflagrada em jogo combinado com o também senador Otto Alencar, presidente estadual do PSD. Segundo apurou a Metropolítica, a manobra faz parte da primeira etapa do plano traçado por ambos para evitar que Coronel seja rifado de uma das duas vagas do Senado na chapa majoritária governista em 2026. Após assumir o papel de porta-voz do grupo de dez deputados estaduais da base aliada que se dizem ignorados pelo governador, a maioria do PP e do PL, a estratégia inicial do senador é usar a tropa dos insatisfeitos para dificultar a vida de Jerônimo em votações de projetos de interesse do Executivo e ganhar musculatura nas futuras negociações com o petista.
Segundo tempo
Caso a pressão por meio dos parlamentares do G10 não dê o resultado esperado em curto prazo, aliados de Coronel confidenciaram à coluna que ele já tem a próxima fase da operação pronta para colocar em prática. Em linhas gerais, a tática é agregar a bancada do PSD na Alba, que ainda não aderiu ao grupo dos descontentes, e formar um blocão com aproximadamente 20 deputados, quase metade dos 42 integrantes da base na Casa. O número é suficiente para dinamitar a governabilidade de Jerônimo, em aliança pragmática com grande parte dos 19 membros da oposição. Essa é a mesma avaliação do núcleo-duro do governo, para quem o senador jamais lançaria uma investida com tal nível de ousadia sem autorização prévia de Otto.
Tradutor simultâneo
Os rastros deixados pelos recentes movimentos de Coronel na Assembleia reforçam as suspeitas de que a artilharia direcionada ao governador e ao alto clero do PT da Bahia foi montada a quatro mãos pelos dois senadores. A começar pelas declarações feitas após o encontro realizado na segunda-feira (03) com deputados do G10. Em postagem nas redes sociais, Coronel garantiu, em tom de alerta, que apostar em um conflito entre ele e Otto seria perda de tempo. Embora as digitais do presidente do PSD não tenham aparecido nitidamente na jogada, a ausência de oito dos nove parlamentares do partido na Alba durante a reunião também elevou a desconfiança.
Meia palavra basta
O único quadro da bancada da sigla presente ao conclave do G10 foi justamente um dos herdeiros de Coronel, Ângelo Filho. O que alimentou a tese de que o pelotão controlado por Otto só entrará em campo quando e se for necessário. Tanto que, antes do início da reunião, Coronel não permitiu a entrada de Ricardo Rodrigues (PSD). De acordo com testemunhas do episódio, o senador disse que gostava muito dele, pediu desculpas com gentileza pelo veto, mas destacou que o deputado cumpria as determinações de Otto.
Não contavam com minha astúcia
Cardeais governistas que conhecem a fundo as artimanhas do xadrez político recomendaram a Jerônimo atenção redobrada com os passos dos senadores do PSD. Lembraram que Coronel é um jogador habilidoso, sabe mover as peças no tabuleiro com extrema sagacidade e está disposto a batalhar pela vaga na chapa da base aliada a qualquer custo. Já Otto tem o controle total sobre os deputados do partido e pretende usar a lealdade canina da bancada para impedir que o governo asfixie o PSD, com o objetivo de fortalecer excessivamente o Avante, legenda comandada na Bahia pelo ex-deputado Ronaldo Carletto.
Cabeça de gelo
Por fim, destacaram os articuladores do Palácio de Ondina, os parlamentares do G10 enxergaram nos planos de Coronel a oportunidade perfeita de obrigar o governador a atender as demandas negadas a eles, sem precisar curvar a cabeça demais em gesto de submissão. Sobretudo, porque o senador possui um trunfo de valor na manga. Escolhido pelo Congresso como relator-geral do Orçamento da União para 2025, Coronel tem a possibilidade de manejar o bolo bilionário reservado a emendas para atender redutos de deputados do grupo e cobrir prováveis cortes por retaliação do governo. A partir de agora, sugeriram que Jerônimo adote cautela extra e muita perspicácia antes de cada movimento, diante dos riscos de encarar um xeque-mate.
Fonte: Metro 1
Foto: Agência Senado
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